A interferência da tecnologia sobre os cônjuges

Bons eram os tempos em que os casais discutiam por dinheiro, filhos ou ainda pelas questões que envolviam a intimidade afetiva…

Um novo estudo da Brigham Young University, intitulado “Technoference: The Interference of Technology in Couple Relationships and Implications for Women’s Personal and Relational Well-Being”, foi além, ao analisar como a tecnologia pode vir a interferir nos relacionamentos.

A investigação

O estudo avaliou uma amostra de 143 mulheres, que viviam junto com seus parceiros “tecnológicos”, quando foram solicitadas a completar um questionário online a respeito.

A maioria das participantes declarou que os dispositivos tecnológicos (como computadores ou smartphones, por exemplo) foram responsáveis pelas interrupções mais constantes do casal nos momentos destinados ao lazer, conversas e as refeições conjuntas – momento, diga-se de passagem, em que se aprofundam muitas das questões pessoais.

Especificamente, os níveis mais elevados de interferência tecnológica (ou “technoference”) foram associados aos maiores escores de conflito no relacionamento e de menor satisfação geral com a vida a dois.

As participantes ainda relataram que:

– 62% afirmaram que a tecnologia interfere com o tempo livre do casal;

– 35% dizem que seu parceiro acessava o telefone enquanto conversavam, quando recebia uma notificação de mensagem;

– 25% disseram que seu parceiro ativamente enviava mensagens de texto a outras pessoas enquanto ocorriam as conversas entre o casal.

Para concluir, descobriu-se que a presença da perturbação tecnológica foi, com a passagem do tempo, um dos elementos mais associados aos relatos de depressão e de desapontamento geral com o relacionamento, segundo essas parceiras.

Conclusão

Antes de mais nada, vale dizer que a presente investigação é uma das primeiras a relatar o que a tecnologia pode realmente fazer com os cônjuges e não apenas com os usuários diretos dos aparelhos eletrônicos, o que já se conhece muito bem.

Talvez pareça exagero dizer que breves interrupções nas comunicações de um casal seriam ruins para a vida a dois, mas, na verdade, não é. Eu explico.

Quando usamos os eletrônicos, é muito comum que adentremos em um estado de consciência alterado, também denominado na literatura psicológica de “experiência de fluxo”. Tal vivência ocorre quando fazemos algo que é muito prazeroso e, ao mesmo tempo, gratificante. Dançarinos, jogadores de xadrez, alpinistas e todos aqueles que expressam grande concentração em uma atividade de sua preferência podem experimentar esse estado.

Tratando-se da tecnologia, é bem possível que ocorra exatamente o mesmo, ou seja, “sentimos” que ficamos pouco tempo “ausentes” quando, na verdade, perdemos a noção do tempo gasto, desagradando nossos parceiros que sentem exatamente o contrário: de que o tempo passa mais rapidamente.

Além disso, ao termos nossa atenção voltada para nossos eletrônicos, podemos transmitir a ideia de que a pessoa ao lado não nos é tão importante, provocando sentimentos de negligência e desconsideração contínuas.

Algumas dicas lhe podem ser úteis para lidar com esse tipo de situação:

– Coloque o telefone em outro lugar, tal como uma prateleira ou sobre alguma mesa mais distante, quando ao lado de seus cônjuges ou familiares;

– Se você precisa fazer algo que legitimamente seja importante ao telefone ou no computador, forneça uma explicação antes para que, em seguida, possa checar suas informações. E, finalmente:

– Não fique na defensiva quando for informado do excesso do uso – essa é uma forma de alguém lhe dizer que gostaria de mais atenção sua.

Pense nisso na próxima vez que for usar seu smartphone ou computador (e esteja, obviamente, ao lado de alguém). Podemos, sem perceber, estar aproximando as pessoas distantes, mas afastando as pessoas que estão próximas.

 

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